Public Disclosure Authorized Covid-19 e o mercado de trabalho da América Latina e Caribe: impactos diferenciados por gênero BANCO MUNDIAL Public Disclosure Authorized Laboratório de Inovação de Gênero para América Latina e Caribe (LACGIL)1 POLICY BRIEF: Janeiro de 2021 Mensagens-chave • De acordo com pesquisas telefônicas de alta frequência (HFPS, em inglês) realizadas em 13 países da América Latina e Caribe (ACL), as trabalhadoras tinham 44% mais probabilidade do que os homens de perder seus empregos no início da crise do COVID-19. • Com a evolução da crise, os trabalhadores temporariamente desempregados começaram a voltar ao mercado laboral. Mas a diferença na perda de empregos entre mulheres e homens persistiu. Public Disclosure Authorized • Os setores com uma alta participação de mão de obra feminina como comércio, serviços pessoais, educação e entretenimento - explicam 56 por cento de todas as perdas de empregos. • Os fatores associados à resiliência à perda de empregos durante a crise diferem entre homens e mulheres. Por exemplo, a presença em casa de menores em idade escolar está associada a um aumento na perda de empregos entre as mulheres, mas não entre os homens. • As perdas de empregos como resultado da pandemia COVID-19 podem aprofundar as lacunas de gênero existentes na região, criando assim a necessidade de se desenvolver respostas e ações de políticas que ajudem a garantir uma recuperação inclusiva. O contexto A pandemia da COVID-19 está estabelecendo uma nova dinâmica uma redução da pobreza, mas as lacunas de gênero persistem na que poderá agravar as lacunas de gênero existentes na região. região. Os homens participam da força de trabalho em maiores Public Disclosure Authorized As medidas de distanciamento social afetaram as atividades proporções do que as mulheres, e têm uma maior probabilidade de sociais e econômicas, criando impacto na capacidade de geração conseguir empregos formais, de melhor qualidade e em setores de de renda das famílias. Evidências sobre epidemias anteriores melhores remunerações. Além disso, as mulheres, especialmente sugerem que este tipo de crise ameaça reverter os avanços em as mulheres jovens, têm maior probabilidade de ficarem desem- matéria de oportunidades econômicas das mulheres (de Paz et al. pregadas (Banco Mundial 2020). 2020). As mulheres têm uma alta participação laboral nas ocupações que exigem interações presenciais, como no comércio, cuidados Laboratório de Inovação de Gênero para pessoais e turismo, tornando menos viável trabalhar de casa e aumentando a probabilidade de perda de emprego. As mulheres América Latina e Caribe (LACGIL) têm mais probabilidade do que os homens de trabalhar no setor informal e em outras formas vulneráveis de emprego. As mulheres O LACGIL apóia avaliações de impacto e pesquisas inferen- também tendem a fazer mais tarefas domésticas não remuneradas ciais para gerar evidências sobre o que funciona para fechar do que os homens (cerca de 2,7 horas por dia). Durante a pande- as lacunas de gênero em quatro áreas: capital humano, mia, o trabalho de cuidados não remunerado aumentou porque as participação econômica, normas sociais e agência e empo- crianças estão fora das escolas, os idosos têm mais necessidades deramento. de cuidados e os serviços de saúde estão sobrecarregados (Banco Mundial 2020). Além disso, o laboratório divulga descobertas para melhorar a formulação de políticas na concepção de intervenções com Sem respostas de políticas oportunas e bem informadas, a crise boa relação custo-benefício que abordem as desigualdades poderia aumentar as disparidades de gênero que persistem na de gênero e impulsionem a mudança. região, apesar dos avanços ocorridos nos últimos 30 anos. Na região, por exemplo, a participação das mulheres na força de Para alcançar isso, o LACGIL trabalha em parceria com trabalho aumentou nas últimas três décadas (de 41% em 1990 para unidades do Banco Mundial, agências de ajuda e doadores, 53% em 2019). Isso levou a melhorias nos salários das mulheres e a governos, organizações não governamentais, empresas do setor privado e pesquisadores. 1 Esta nota foi preparada por Emilia Cucagna e Javier Romero. A equipe agradece os valiosos comentários de Jacobus Joost De Hoop e Ximena del Carpio. 1 Esta nota explora os impactos da crise da COVID-19 no mercado de trabalho para homens e mulheres e identifica as dimensões que tornam os trabalhadores mais resistentes à perda de seus empregos. Essas descobertas são então usadas para discutir as implicações para a formulação de políticas. Para superar a falta de dados gerados pela pausa na maioria das operações estatísticas resultantes de medidas de distanciamento social, este estudo utiliza uma série de pesquisas telefônicas de alta frequência (HFPS) coletadas na região pela Prática Global de Pobreza e Equidade do Banco Mundial. Desta forma, a nota visa estimar os impactos diferenciados por gênero nos mercados de trabalho associados à recessão mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial. Os dados conhecimento sobre a COVID-19 além das características demo- gráficas das famílias. A amostra cobre uma média de 1.000 indivíduos por país, com Entre maio e agosto de 2020, foram realizadas três rodadas de um total de 13.152 observações, que foram acompanhados duran- pesquisas por telefone em 13 países da ALC para avaliar os te três rodadas de coleta de dados.3 A amostra em cada país é impactos e os canais de transmissão da crise da COVID-19 na nacionalmente representativa de indivíduos com 18 anos ou mais região.2 A primeira rodada de pesquisas foi realizada em maio de que têm acesso a um telefone. Os dados derivam de amostragem 2020 (dois meses após a maioria dos países da ALC terem declara- probabilística usando discagem de dígitos aleatórios.4 Os pesos do quarentena, em meados de março de 2020). A segunda rodada foram calibrados para incorporar as projeções populacionais da foi coletada entre junho e julho de 2020, e a terceira entre julho e Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e agosto de 2020. As pesquisas incluíram módulos sobre emprego, o Caribe (CEPAL). A Figura 1a mostra que 63% das mulheres mudanças na renda familiar, acesso a serviços, comportamentos e relataram ter trabalhado antes da pandemia; a participação dos homens foi de 84%. Assim, na amostra, as mulheres representavam 45% da população ocupada antes da pandemia (figura 1, painel b). FIGURA 1, A. TAXA DE EMPREGO PRÉ-COVID-19, POR GÊNERO 100% 16% 80% 37% 60% 40% 84% 63% 20% DEFINIÇÕES 0% Homens Mulheres • A análise é conduzida em nível regional, agrupando os dados Trabalhando antes da Covid-19 Não trabalhando antes da Covid-19 dos 13 países. Os países incluídos na amostra são Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Chile, República Dominica- na, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Peru e Paraguai. As mulheres representam 54% da amostra. Consistente com os FIGURA 1, B. PARCELA PRÉ-COVID-19 DA POPULAÇÃO dados de toda a região, incluindo os países fora da amostra, os EMPREGADA POR GÊNERO homens tinham mais probabilidade do que as mulheres de estarem empregados antes do surto de COVID-19. • A análise se concentra em indivíduos que estavam empregados antes da pandemia, salvo indicação em contrário. - Perda de emprego ou desemprego são definidos como não trabalhar durante a semana anterior à pesquisa. 45% 55% - Uma perda temporária de emprego ocorre se um entrevistado relata uma perda de emprego, mas tem um emprego para onde voltar. - Uma perda de emprego permanente ocorre se um entrevistado relata uma perda de emprego e não tem emprego para retornar. - A perda total de empregos, ou seja, a soma das perdas tempo- Mulheres Homens rárias e permanentes de empregos, tem implicações na renda derivada do trabalho e no bem-estar. Fonte: Dados do HFPS, rodada 1. 2 Na nota, "ALC" e "região" referem-se à população representada pelos 13 países da América Latina e Caribe incluídos no estudo. 3 As taxas de resposta na segunda e terceira rodadas foram 71,6% e 68,8%, respectivamente. 4 A metodologia, RDD em inglês, gerou números de telefone aleatórios para chegar aos entrevistados. Para saber mais sobre a representatividade, desenho de amostragem e detalhes de ponderação do HFPS, consulte Flores Cruz (2020), COVID-19 High-Frequency Survey in Latin American countries. Nota técnica: Desenho de Amostragem e Ponderação. 2 O que o estudo identificou? Desigualdade na perda de empregos. A crise da COVID-19 afetou desproporcionalmente as mulheres, e que, em todos os países da amostra, as mulheres têm mais proba- essa diferença persistiu. Aproximadamente dois meses depois bilidade do que os homens de perder seus empregos entre a que os governos estabeleceram quarentenas na maioria dos primeira e a terceira rodadas. A figura se concentra em indivíduos países, ocorreu a primeira rodada de coleta de dados. Esta rodada que estavam empregados antes da pandemia e mostra para cada mostra que 56% das mulheres perderam seus empregos de manei- país, a porcentagem de mulheres (verde) e homens (amarelo) que ra temporária ou permanentemente. Isso é 44% mais alto do que a perderam seus empregos durante a crise, temporária ou perma- taxa correspondente para os homens, 39% (figura 2). A disparida- nentemente. A barra cinza representa a lacuna de emprego. A de de emprego, aqui definida como a diferença entre as taxas de figura é organizada por país e rodada de pesquisa (primeira e desemprego feminino e masculino, situou-se em 16 pontos percen- terceira) e classificada pelo nível de disparidade de emprego na tuais. primeira rodada. A Figura 3 também sugere que nem todos os países foram afetados igualmente. Na primeira rodada, no início da Os dados da segunda e terceira rodadas mostram uma diminui- crise, as maiores disparidades de gênero foram encontradas em ção das perdas temporárias de empregos, mas não as permanen- Honduras e na Costa Rica, onde as mulheres tinham 25 pontos tes. No entanto, a diferença entre homens e mulheres permaneceu percentuais a mais de probabilidade de estarem desempregadas praticamente inalterada. Na terceira rodada de coleta de dados em do que os homens. A Bolívia e o Peru apresentaram a menor agosto de 2020, a diferença na perda total de empregos entre diferença, 10 e 11 pontos percentuais, respectivamente, mas homens e mulheres ainda era de 15 pontos percentuais, e a taxa de também algumas das taxas gerais de desemprego mais altas da perda permanente do emprego afetou uma mulher em cada cinco. região A profundidade e a amplitude da crise sobre as mulheres são observadas em todos os países da amostra. A Figura 3 mostra FIGURA 2.: AS MULHERES TÊM MAIOR PROBABILIDADE DO QUE OS HOMENS DE ENFRENTAR PERDAS TEMPORÁRIAS E PERMANENTES DE EMPREGOS 60% 56% Porcentagem da população com 50% 49% empregos pré-Covid-19 42% 40% 39% 35% Mulheres 34% Homens 30% 27% 28% 26% 23% 20% 21% 21% 21% 19% 16% 13% 13% 12% 10% 0% R1 R2 R3 R1 R2 R3 R1 R2 R3 TOTAL DE EMPREGOS PERDIDOS PERDAS TEMPORÁRIAS DE EMPREGOS PERDAS DE EMPREGOS PERMANENTES Fonte: Dados do HFPS, rodadas 1-3 FIGURA 3. EM TODOS OS PAÍSES, AS MULHERES TÊM MAIORES PROBABILIDADES DO QUE OS HOMENS DE ENFRENTAR A PERDA DO EMPREGO 100% 30 Perdas de emprego (percentagem) 80% 25 (pontos porcentuais) Lacunas de gênero 20 60% 15 40% 10 20% 5 0% 0 R1 R3 R1 R3 R1 R3 R1 R3 R1 R3 R1 R3 R1 R3 R1 R3 R1 R3 R1 R3 R1 R3 R1 R3 R1 R3 HONDURAS COSTA REPÚBLICA GUATEMALA PARAGUAI COLÔMBIA MÉXICO EL CHILE EQUADOR ARGENTINA PERU BOLÍVIA RICA DOMINICANA SALVADOR Lacunas de gênero (direitos) Homens Mulheres Fonte: Dados do HFPS, rodadas 1-3 3 O que está causando a perda de empregos? As mulheres tendem a trabalhar em setores que dependem mais 60% das mulheres antes da crise. Esse padrão sugere que as de interações presenciais e, portanto, são mais vulneráveis a lacunas de gênero no mercado de trabalho estão sendo exacerba- medidas de distanciamento social. Na verdade, os setores majori- das como resultado da crise da COVID-19. As perdas de empregos tariamente femininos explicam a maioria das perdas de empregos entre as mulheres não só aumentam as lacunas econômicas de observadas (figura 4). Embora os impactos variem por setor, 56% gênero, mas também podem ampliar outros desequilíbrios dentro das perdas de empregos concentraram-se no comércio, serviços da família, reduzindo o empoderamento das mulheres, diminuindo pessoais, educação e hotéis e restaurantes, de acordo com a o poder de barganha dentro de casa e agravando a violência primeira rodada de dados. Estes são quatro dos cinco setores com doméstica (Manser and Brown 1980; Perova and Reynolds 2017). maior concentração de mão de obra feminina, que empregavam FIGURA 4. OS SETORES MAIS ABUNDANTES EM MÃO DE OBRA FEMININA EXPLICAM GRANDE PARCELA DO TOTAL DE EMPREGOS PERDIDOS COMÉRCIO 20% Porcentual total de empregos SERVIÇOS PESSOAIS 15% perdidos (rodada 1) 10% EDUCAÇÃO HOTÉIS E RESTAURANTES MANUFATURA CONSTRUÇÃO 5% TRANSPORTE OUTROS ADMIN PÚBLICA SAÚDE AGRICULTURA PROFISSIONAIS ELETRICIDADE E ÁGUA TURISMO SERVIÇOS FINANCEIROS MINERAÇÃO 0% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Fonte: Dados do HFPS, rodada 1. Porcentagem de participação de mulheres antes da COVID-19 Nota: A perda de emprego é definida como não trabalhar durante a semana anterior à pesquisa. Verificou-se que no emprego assalariado, o acesso à Internet e à lho com menor probabilidade de serem realizados remotamente. Educação aumentam a probabilidade de se permanecer emprega- do, mas alguns efeitos são diferentes entre homens e mulheres Além disso, a análise conclui que o alto nível de escolaridade está (figura 5). Usando uma abordagem de regressão multivariada, o associado a uma maior resiliência à perda de emprego.6 Esse estudo explora os fatores que se correlacionam com a probabilidade resulta-do pode estar relacionado ao tipo de trabalho realizado por de permanecer empregado durante a pandemia, isto é, nas três trabalha-dores mais qualificados. Esses trabalhadores podem estar rodadas da pesquisa.5 Em contraste ao trabalho autônomo, o trabalho mais envol-vidos na execução de tarefas cognitivas relativamente assalariado pré-pandemia está associado a uma maior probabilidade não rotineiras. Esses resultados também podem ser consistentes de permanecer empregado após a crise do COVID-19, sendo esta a com a maior produtividade de trabalhadores com maior nível de maior diferença encontrada no modelo. É provável que o emprego escolaridade e a evidência de que o desemprego diminui com o assalariado tenda a operar por meio de uma maior segurança no aumento dos anos de escolaridade. emprego oferecida pelo setor formal em relação à oferecida pelo trabalho autônomo e independente, geralmente no setor informal, e a As mulheres têm mais probabilidade do que os homens de perder capacidade das empresas formais de se adaptarem à crise. seus empregos devido ao aumento das necessidades das crianças em casa, já que as normas sociais incentivam as mulheres a serem as O estudo conclui que o acesso à Internet, que facilita a possibilida- principais cuidadoras na família.7 Embora a presença de crianças em de de trabalhar remotamente, é um determinante importante para o idade escolar no domicílio não seja um fator associado à probabilida- emprego durante a pandemia. Os resultados mostram que o acesso de de permanecer empregado dois meses após o início da crise da à Internet aumenta a probabilidade de permanecer trabalhando. No COVID-19 (Maio de 2020) (figura 6), a prestação de cuidados tornou- entanto, o efeito não é estatisticamente significativo para as mulhe- -se um fator mais relevante associado à perda de empregos à medida res. Isso pode ser explicado pelo fato de que, antes da crise da COVI- que a pandemia persistia.8 D-19, as mulheres trabalhavam principalmente em setores que reque- rem interações presencias, as quais estão associadas a tipos de traba- FIGURA 5. FATORES ASSOCIADOS À PERMANÊNCIA NO EMPREGO DURANTE A CRISE Aumento da probabilidade 0.30 de não perder o emprego (pontos percentuais) 0.20 Mulheres Homnes 0.10 0.00 Fonte: Dados da HFPS, rodadas 1–3. Nota: As barras representam o coeficiente de variáveis selecionadas -0.10 em uma regressão multivariada. As CRIANÇA EM IDADE ALTO NIVEL DE ACESSO À INTERNET EMPREGADO listras diagonais indicam falta de ESCOLAR ESCOLARIDADE ASSALARIADO significância estatística (p> .1). 5 A análise se baseia em um modelo de probabilidade linear estimado por mínimos quadrados ordinários. A variável dependente é uma variável dicotômica que indica se o indivíduo permaneceu empregado nas três rodadas de coleta de dados. A análise é restrita a indivíduos empregados antes da pandemia. As seguintes variáveis explicativas estão incluídas: efeitos fixos para o país, indústria, idade em anos, composição da família (número de membros masculinos da família, número de mulheres membros da família, número de membros da família com 65 anos ou mais), número de quartos (que, juntos com a composição da família, pode ser interpretado como um proxy para riqueza) e tipo de trabalho (autônomo, assalariado, empresa familiar e outros) e variáveis dummy para residência urbana, alto nível de escolaridade (medido como conclusão de pelo menos ensino médio), acesso à Internet e se há uma criança em idade escolar na casa (definido como crianças, de 5 a 18 anos). O modelo é estimado separadamente para homens e mulheres. 6 Nível de escolaridade medido como conclusão de pelo menos ensino médio. 7 Os resultados da regressão não são estatisticamente significativos entre os homens. 8 Isso é consistente com apenas 3% das mulheres e 1% dos homens, relatando que cuidar dos filhos é a principal razão para perderem seus empregos no momento da primeira rodada de pesquisas. 4 FIGURA 6. IMPACTO DE TER MENINOS E MENINAS EM IDADE ESCOLAR EM CASA, POR RODADA DE PESQUISA 0.10 Incremento en la probabilidad de no perder el trabajo (puntos porcentuales) 0.06 0.02 Mulheres Homnes -0.02 Fonte: Dados da HFPS, rodadas 1–3. Nota: As duas barras à esquerda representam o coeficiente de variáveis selecionadas em uma regressão -0.06 multivariada sobre a probabilidade de manter um emprego durante a primeira rodada de pesquisa. As duas barras à direita representam o coeficiente das variáveis selecionadas em uma -0.10 regressão multivariada sobre a probabilidade de manter um emprego RODADA 1 RODADA 1 A 3 nas três rodadas de coleta de dados. As listras diagonais indicam falta de significância estatística (p > .1) Primeiros sinais de recuperação? A maioria dos setores não mostra sinais de recuperação entre as trabalhadoras até agosto de 2020, e aqueles que o fazem envol- vem empregos de qualidade inferior. Apenas 42% dos indivíduos que retornaram ao trabalho em agosto de 2020 e que estavam empregados antes da COVID-19 estão trabalhando nos mesmos setores em que trabalhavam antes da pandemia. Fontes essenciais de emprego entre as mulheres, como comércio, serviços pessoais e educação, ainda estão em níveis consideravelmente baixos de operação. Além disso, a distribuição de mulheres trabalhadoras por tipos de empregos mudou. Antes da COVID-19, 61% das traba- lhadoras tinham empregos remunerados e 33% eram autônomas (figura 7, painel a). Em agosto de 2020, 53% tinham emprego assalariado e 38% eram autônomos (figura 7, painel b). FIGURA 7, A. TIPO DE EMPREGO PARA MULHERES ANTES FIGURA 7, B. TIPO DE EMPREGO PARA MULHERES PÓS-COVID-19 DA COVID-19 6% 9% 33% 53% 38% 61% Autônomo Empregado Outros Autônomo Empregado Outros Fonte: Dados da HFPS, rodadas 1–3. 5 Recomendações de políticas • A pandemia da COVID-19 tem o potencial de ampliar as lacunas serviços de creche e cuidado de idosos e podem promover medi- de gênero existentes no mercado de trabalho. Esta nota mostra das para reconhecer, reduzir e redistribuir a carga de trabalho que as disparidades de gênero na ALC estão piorando como não remunerado dentro das famílias (Vaeza, 2020). consequência da pandemia. Compreender as implicações de gênero da COVID-19 é a chave para informar a elaboração de • Garantir a disponibilidade de dados desagregados e represen- respostas políticas eficazes. As respostas e ações eficazes se tativos por gênero pode ajudar na concepção de políticas mais concentrariam na criação de condições e incentivos para que as específicas e bem direcionadas. Podem ser necessárias políti- mulheres participem com sucesso no mercado de trabalho. cas específicas de cada país para maximizar o impacto das Dado o maior envolvimento das mulheres com o cuidado de ações políticas. Os dados do HFPS podem ser usados em nível crianças e idosos, bem como com as tarefas domésticas, as de país para identificar lacunas de gênero específicas e propor políticas podem incorporar elementos que visam restaurar a respostas de políticas sob medida. Os canais de transmissão dinâmica doméstica e incentivos. As conclusões desta nota identificados nesta nota estão focados nas condições econômi- sugerem que a política deve abranger planos de recuperação cas das mulheres. No entanto, a crise do COVID-19 também pode com um ângulo de gênero. estar afetando a agência e o acúmulo de capital humano das mulheres, por exemplo, por meio da deterioração do acesso aos • Implementar programas de proteção social voltados para as serviços de saúde e educação. Essa possibilidade leva à necessi- mulheres mais afetadas durante a crise: mulheres chefes de dade de dados desagregados e representativos por gênero que família, trabalhadoras informais e domésticas que não recebem possam ajudar a medir o impacto da crise em tais dimensões. benefícios da cobertura de proteção social e mulheres desem- Essas dimensões incluem o abandono escolar e realização pregadas. Isto poderia ajudar as famílias a mitigar os efeitos educacional, o desenvolvimento da primeira infância entre meni- negativos e a continuar investindo nos meninos e meninas nos e meninas, o acesso a serviços de saúde, o tempo gasto nas (Vandeninden et al., 2019; Rutkowski, 2020). Além disso, os tarefas domésticas, as mudanças potenciais nas normas e programas de transferência também poderiam apoiar as trabal- atitudes sociais e o maior risco de violência contra mulheres e hadoras autônomas na retomada de seus negócios, consideran- meninas. do que a maioria dos setores com alta participação laboral de mulheres também estão mais sujeitos a serem afetados negati- vamente por medidas de distanciamento social (de Paz et al, 2020). Além disso, os programas sociais podem incluir compo- PERMANEÇA CONECTADO nentes de treinamento e “coaching”, incentivos para formali- zação, concursos de planos de negócios e acesso a financiamen- Visite o LACGIL website para mais informações to (Rutkowski and Bousquet 2019). Como as transferências de E mail: lacgenderlab@worldbank.org dinheiro podem ser implementadas com interações presenciais limitadas e a baixo custo, elas são uma medida eficaz de imple- RECONHECIMENTO mentação no contexto da COVID-19, ajudando a minimizar a Este trabalho foi financiado pela Umbrella Facility for Gender propagação do vírus. Equality (UFGE), que é um fundo fiduciário de vários doadores administrado pelo Banco Mundial para promover a igualdade de • A médio prazo, as políticas podem ter como objetivo aumentar gênero e o empoderamento das mulheres por meio de experi- a resiliência dos trabalhadores autônomos e com menor mentação e criação de conhecimento com o objetivo de ajudar escolaridade, especialmente das mulheres. Isso poderia incluir os governos e o setor privado a focar em políticas e programas apoio financeiro por meio de linhas de crédito ou serviços finan- de soluções escaláveis com resultados sustentáveis. O UFGE é ceiros para mulheres empreendedoras. Essas iniciativas, como apoiado por generosas contribuições da Austrália, Canadá, programas sociais, também podem ser combinadas com capaci- Dinamarca, Alemanha, Islândia, Letônia, Holanda, Noruega, tação, incentivos para formalização e planos de negócios. Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido, Estados Unidos e Fundação (Rutkowski and Bousquet, 2019). Além disso, conforme as Bill e Melinda Gates. economias e a normalidade das atividades de trabalho se recuperam, as políticas também podem facilitar o acesso As descobertas, interpretações e conclusões expressas neste texto são inteiramente de responsabilidade dos autores. Eles não refletem necessariamente as opiniões do Banco Mundial, de suas organizações afiliadas, dos Diretores Executivos do Banco Mundial ou dos governos que eles representam. Este material não deve ser reproduzido ou distribuído sem UMBRELLA FACILITY FOR GENDER EQUALITY o consentimento prévio do Banco Mundial. 1818 H. St NW Washington, DC 20433. EEUU. 6 REFERÊNCIAS de Paz, Carmen, Miriam Müller, Ana María Muñoz-Boudet, and Isis Gaddis. 2020. “Gender Dimensions of the COVID-19 Pandemic.” Policy Note (April 16), World Bank, Washington, DC. Manser, Marilyn y Murray Brown. 1980. “Marriage and Household Decision-Making: A Bargaining Analysis.” International Economic Review 21 (1): 31–44. 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